sexta-feira, 13 de março de 2009

Da Comida e do Comer

Os membros da minha, não muito grande, família, sempre tiveram a mania de andar dispersos por aqui e por aí.
Neste momento, por exemplo, estão duas em Londres, uma na Lituânia e um em Barcelona.
Uma das que está em Londres chegou esta semana. Já me ligou para almoçarmos e, de que fala ela?, de comer. Fala de comer quando vai; fala de comer quando vem. E são as sardinhas; e é o cabrito; o pão, meu Deus, o pão! Ela é tão maneirinha, que não sei onde mete o que come cada vez que cá vem. Todas as saudades, à parte aquelas que nos dirige e que nem sequer se questionam, vão para a comida e para o clima. Saudades do pão; do cabrito; das sardinhas; das esplanadas cheias de sol…a comer sardinhas, evidentemente.
Ontem falei com a que está na Lituânia. Está feliz. Farta de passear. Desconfio que já conhece todas as cidades do Leste e arredores. Mas, dizia ela, nunca pensei ter tantas saudades disso aí. Tenho tantas saudades do pão!
Olha outra, pensei eu. Mas esta família só pensa no que come, ou será que nós realmente temos o melhor pão do mundo, o melhor peixe, o melhor cabrito? Enfim, a melhor comidinha?! Sim porque, pela parte que me toca, não posso pensar em nós sem me lembrar dos queijos, do pão, dos vinhos. E os enchidos?!...As farinheiras?! As morcelas?! Xiiiiii!!! Até os grelos! As hortaliças! A fruta!
Quem tem o costume de fazer compras no mercado, quem tem o hábito de ir à praça, sabe bem do que falo. A praça é um lugar onde tudo se ri para nós. Deve ser o único lugar do mundo onde tudo o que está morto parece vivo e nos pede, insistentemente, para ser consumido. Nos mercados mais afastados dos grandes centros urbanos, ainda se consegue comprar as hortaliças do senhor Joaquim e as maçãs da dona Ermelinda.
Quanto aos supermercados...
"Quanto aos supermercados, basta acordar cedo e ir ler os rótulos das caixas que chegam nos camiões - é uma deprimente viagem à volta do mundo agro-totalitário, geneticamente modificado e Terminator 5. É fruta que nunca apodrece nem morre porque - tapem os ouvidos às criancinhas - nunca chegou a nascer. Brrr..." (Miguel Esteves Cardoso, Em Portugal Não Se Come Mal, Assírio & Alvim).

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