segunda-feira, 2 de março de 2009

Ironias

Lembro-me perfeitamente da dificuldade que tive, nos primeiros anos de escola, para compreender o conceito de infinito. Fazia-me uma confusão tremenda. Era demasiado para mim e para o meu pequeno mundo. Aprendi que os números são infinitos, mas fiquei-me por aí. Os números são infinitos porque nunca mais acabam, e pronto.
Mais tarde, quando me dispus a alargar um pouco mais a minha mente, descobri que dentro de mim coexistiam vários. Descobri a multiplicidade de cada ser na forma como se adapta aos vários papéis que desempenha, na forma como se molda às circunstâncias, na forma como os seus humores se alteram.
Hoje, quando falo com alguém sobre um outro alguém qualquer, sinto muitas vezes que estamos a falar de dois alguéns diferentes. Ao que parece, não existem duas pessoas que vejam uma outra mesma com os mesmos olhos.
Assim, somos múltiplos por dentro, e múltiplos por fora. Poder-se-ía até dizer que somos múltiplos ao quadrado, se é que isso faz algum sentido.
Ora a nossa multiplicidade própria mais a multiplicidade de todos os olhos que nos vêem, faz de cada ser um número tão grande que me atreveria a dizer que, afinal, o infinito habita dentro de cada um de nós.

1 comentário:

JP disse...

Infinitamente mais complicado, em nós, é sermos observados mediante o que escrevemos, ou o que vestimos, sem reforço para aquilo que somos, para a idade que temos ou para a opinião que partilhamos, e receber em troca um beijo ou um tabefe, conforme a disposição alheia.