segunda-feira, 9 de março de 2009

Os Beatos

Beatos são teóricos que sabem quase tudo…em teoria.
Eles existem em todas as vertentes da nossa sociedade. São aqueles que amam os livros e que, por isso, lhes prestam lindíssimas homenagens sob a forma de estantes, poltronas e candeeiros e que, às vezes (alguns, muitas vezes) até os lêem. E são até capazes de decorar certas passagens mais significativas, sem contudo compreenderem como é que uma teoria tão perfeita poderá alguma vez ser posta em prática num mundo tão imperfeito como o nosso.
Os beatos sentem-se amiúde superiores aos demais. A sua extraordinária bagagem de conhecimentos coloca-os muito acima dos restantes mas, como teoricamente sabem que a humildade é uma virtude, esforçam-se bastante por parecer humildes e compreensivos, sobretudo compreensivos. Contudo, a um observador mais atento, não escapa o esforço que fazem para dissimular um certo desprezo pela ignorância.
Os beatos são aqueles que não podem deixar passar uma missa e que batem constantemente com a mão no peito. Que falam com Nosso Senhor – tu cá tu lá. Que sabem exactamente o que Ele quer e o que espera de nós. Sabem o que é o bem e o que é o mal, sem nunca se confundirem. E estão tão firmes nas suas convicções que não hesitam em crucificar seja quem for que não corresponda aos padrões morais vigentes, na religião que defendem, evidentemente.
Os beatos são ainda todos aqueles que se dedicam a desvendar os segredos do Oriente e que de repente acreditam ter descoberto a passagem para “o outro lado” mas que continuam a tratar os desgraçados, cá deste lado, da mesma maneira que tratavam antes, ou pior ainda.
Beatos são todos os teóricos que, ao dedicarem todo o seu tempo a uma aprendizagem teórica, não lhes sobra tempo nenhum para porem em prática tudo o que aprenderam.
Não gosto de beatos. Não tenho paciência para eles. Nem sequer os respeito. E não gosto de beatos porque não gosto de preconceituosos ou, pior ainda, de fundamentalistas. Gentinha limitada e poucochinha, isso sim.

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