terça-feira, 21 de abril de 2009

Síndroma Queiroziano

Quando é que falhamos?
Quando é que a vida nos vence?
Em que momento nos transformamos em Carlos da Maia and friends que Eça tão bem retratou em 1889?
Será no momento em que deixamos de ter dinheiro para trocar de carro, ou naquele em que reparamos que, na verdade, nunca chegámos a ter?
Será no momento em que deixamos de poder fazer aquelas férias a que nos habituámos, ou naquele em que consciencializamos que, na verdade, nunca as pudemos fazer?
Ou na verdade tanto faz porque o que interessa mesmo é a diferença monumental que existe entre a nossa vida e a do vizinho da frente ou do gajo que aparece na televisão, o cabrão anda para aí a apregoar que defende os mais carenciados mas depois vai-se a ver e tem lá em casa um barco de quatro metros.
É grande um barco de quatro metros? É caro? Caro é com certeza. Basta ser barco e ele não ser pescador.
Sem dúvida que querer um barco e não o poder ter nos transporta para o mundo dos “falhados da vida”, se o barco for muito importante, já se vê. O certo é que os personagens do Eça até tinham dinheiro. Até tinham o suficiente para não terem de trabalhar e, no entanto, falharam.
Vendo bem não é esse o meu problema. Vendo bem não me sinto nada Maia. O que sinto, quase invariavelmente todas as manhãs, é um nó no estômago dum medito que por aqui anda a moer-me e que se adensa sempre que ligo a porcaria do televisor e oiço a merda das notícias.

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