quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dos lamentos

Às vezes acontece ouvirmos de bocas mais velhas, se eu cá vier outra vez hei-de fazer isto e aquilo…
Quando são bocas que nos são queridas, e isso acontece comigo, o coração aperta-se e a incapacidade sufoca. Não gosto de ouvir pessoas que amo em lamentos e, se pudesse, voltava atrás e realizava todos os seus desejos. Mas não posso. A única coisa que posso tentar é que eles se realizem agora, o problema é que, para alguns, já é efectivamente tarde de mais…
“Há um tempo para tudo” e “ Nunca é tarde de mais” são ditos que foram criados para nos baralhar e, como todos os ditos, provérbios e afins, para serem usados a nosso belo prazer e segundo as nossas conveniências.
Se nunca é tarde de mais para certas coisas, é-o para outras, e quando a minha mãe me diz que na próxima reencarnação há-de ser isto e aquilo, tudo tão diferente e tão distante daquilo que ela tem sido nesta, fico aflita, sem saber o que dizer, presa à necessidade que tenho da vida dela fazer todo o sentido. Então, dou comigo a tentar convencê-la que a escolha foi dela, sempre dela, quando sei muito bem que isso não é verdade; que essa história de cada um ser responsável pela suas escolhas é um outro dito inventado por responsáveis para sacudirem a água do capote. O facto é que a nossa liberdade, ainda que real, só pode ser exercida na sua plenitude por mentes esclarecidas e a maior parte das mentes que nasceram neste país nas primeiras décadas de 1900, não são mentes esclarecidas e a culpa não é delas.
Não deve ser fácil nascer num mundo a preto e branco para depois o ver emergir inundado de cores, quando já não há força nem visão capaz de as abarcar…

1 comentário:

Goldfish disse...

A mim espanta-me a resiliência daqueles que nasceram no início do séc. XX e ainda estão vivos. Tento arranjar exemplos de algumas coisas que mudaram e muito e parecem-me sempre exemplos fracos, quando tanta outra coisa mudou... A soma de todas essas coisas é que é de pasmar!