sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Denúncias - Que país é este?!

O meu filho é cozinheiro. Terminou o curso há cerca de dois anos na Escola de Hotelaria do Estoril. Fez estágio na York House e rumou para Barcelona onde se especializou em cozinha, não sei se em se de vácuo. Por lá fez mais uns pequenos cursos, na mesma escola, uma das melhores, se não a melhor, de Barcelona.
Ainda cá não tinha chegado e já tinha trabalho em Lisboa. Ao fim de algum tempo decidiu que o restaurante onde estava não satisfazia os requisitos exigidos pelos objectivos a que se propôs – mudou de emprego com facilidade.
Entusiasmou-se neste segundo restaurante onde estava a desenvolver e a criar com alguma liberdade, sempre a passar recibos verdes.
Gostaram dele e foram-lhe gradualmente entregando a responsabilidade da cozinha, e da sala, e da abertura da porta, e já diziam «o nosso restaurante»… até lhe falarem em contrato. O meu filho andava feliz, entusiasmado, e pensou em comprar casa.
Um dia vieram ter com ele e pediram-lhe se não se importava de se inscrever no Centro de Emprego. Ele nem sequer se questionou, atarefado com a procura de casa e já a vislumbrar um futuro a curto prazo, lá se foi inscrever. Percebeu-se mais tarde que quem fizesse um contrato sem prazo a alguém inscrito no Centro de Emprego ficaria dispensado de pagar à Segurança Social durante dois anos…
A coisa foi andando e o contrato tardando até que apareceu a casa e o D. decidiu pressionar um pouco a entidade patronal. Algum tempo depois o contrato surgiu ao final de uma noite de trabalho e, junto a este, uma carta! Assina já, disseram, nessa aí não ponhas data.
O D. olhou a carta – o remetente era ele!!! Os destinatários eles!!! A carta dizia que por motivos de ordem particular ele (D.) não poderia continuar a trabalhar ali!!! Não ponhas data, foram as palavras que o meu filho reteve. Sentiu o estômago às voltas, disfarçou, guardou os papéis e disse que ia pensar.
Quando chegou a casa o contrato tinha como título Contrato Sem Prazo; no desenvolvimento da coisa lia-se a determinada altura – Contrato a Prazo, embora nunca, em alínea nenhuma, estivesse especificado de que prazo se tratava. A carta era tão só uma carta de demissão que ele teria de assinar, sem data, se quisesse assinar o contrato de trabalho. Foi exactamente assim que a coisa lhe foi posta – queres contrato, assinas a carta.
Enganado e usado por vigaristas o D. começou imediatamente à procura de um outro emprego, desanimado e descrente que estava na honestidade e na franqueza das pessoas.
Arranjou trabalho num restaurante mais próximo da casa que entretanto já tinha reservado. Um restaurante de um nível mais alto, onde gostaram imediatamente dele e onde lhe garantiram que não só lhe pagariam mais como lhe fariam contrato já que ninguém trabalha lá sem ele.
O D. está a trabalhar cerca de dez horas diárias. Tem o posto que era suposto ter – 1º cozinheiro. Está lá há um mês. Logo no início, quando perguntou quanto iria ganhar, o patrão pôs-lhe a mão no ombro e respondeu, olhos nos olhos, não te preocupes com isso. O meu filho confiou, não se preocupou e esperou… o horário de trabalho foi-se alargando à medida das necessidades; já ultrapassou largamente o número de horas inicial. Entretanto disseram-lhe que teria de trabalhar no Natal e no Ano Novo. Felizmente cancelaram o Natal...
Já passou um mês... e ele ainda não faz ideia de quanto é que vai ganhar!!!!
Há poucos dias voltou a perguntar ao Chefe que lhe respondeu que o patrão era uma pessoa muito ocupada e que, por isso, ainda não tinham falado sobre o assunto!!!!!
Ainda não tinham falado sobre o assunto???!!! Porquê??!! Pagar a quem trabalha é questão de somenos importância??!! Para alguém que tem um negócio as condições dos seus trabalhadores estão fora do âmbito das suas funções???!!! São extras??!! Mas que país é este???!!!! Que patrões, ou talvez melhor – que cabrões são estes???!!!! Quem é esta gente???!!!! Voltámos ao tempo da escravatura??!!!! Onde está a ASAE em casos como este???!!!!
Será que estas bestas têm a noção do mal que estão a fazer??!! Se eu tivesse 20 anos e ao entrar no mundo cheia de vontade e de planos deparasse com um mundo destes, qual seria a minha reacção??!!!
O D. decidiu que não está preparado para enfrentar abutres. Decidiu que precisa de crescer, de ver o mundo, de se encontrar. Provavelmente vou ficar um ano sem ver o meu filho…

7 comentários:

CF disse...

Pois é. Sei do que falas, em pele própria. E revolta. Mesmo.

Miss Kin disse...

Pois é, a ingenuidade perde-se depressa quando enfrentamos este mundo, os sonhos esfumam-se como o vapor que nos sai da boca aquando de um bocejo em dia de muito frio...

Mas e o contrato chegou a ser assinado? É que no contrato tem que vir especificado o valor...

Rapunzel disse...

Também sei! E até subornos à Segurança Social me propuseram...

Alda Couto disse...

Miss Kin, não foi assinado nenhum contrato :)

Miss Kin disse...

Trabalhar quase um mês sem ter um contrato assinado, ou pelo menos qualquer coisa acordada, é confiar na sorte...

Alda Couto disse...

...ou nos homens...

Goldfish disse...

Que gradessíssima trafulhice! Mas não me espanta, não... com muita pena minha.