quarta-feira, 2 de junho de 2010

Tanta lida, pouca vida

Frequência de Psicologia marcada para as onze. Levanto-me cedo, gosto de me preparar, de descontrair, de levar as primeiras horas da manhã com calma, nem que para isso tenha de me levantar mais cedo. O pai levanta-se também e age como se tivesse hora marcada em algum lugar. Em silêncio pressiona-me para me despachar da casa-de-banho. Sinto-o para lá da porta, a arrastar-se de um lado para o outro. Pergunto se está aflito - não está. Tento que a sua presença em mode «espera» não me pressione. Não consigo. Saio e digo-lhe, Já pode ir. Ele entra e nunca mais sai. Faz a barba...prepara-se para o banho, e eu a precisar de dar os últimos retoques dado que é o único sítio onde há espelho lá em casa. Enervo-me. Peço-lhe, por favor, para passar a esperar que eu saia já que ele não tem hora marcada para nada e eu sim. Fica irritado, gesticula e grita que se vai embora. A mãe treme. Levo a coisa com calma e com calma tento explicar-lhe que não faz muito sentido a pressa que ele tem todas as manhãs; que não lhe custaria esperar que eu saísse de casa, afinal é o que a mãe faz, sensatamente. Mas a sensatez dos homens é diferente daquela das mulheres...Levamos nisto cerca de uma hora. O tempo que tinha destinado para um derradeiro olhar pelas folhas dos apontamentos, foi-se.
O teste é de escolha múltipla. Acabo-o ao meio-dia. Daqui a meia hora volte para a correcção, diz quem manda. Entretanto passo pela tesouraria e fico a saber que tenho duas prestações das propinas em atraso. Pago uma, que esperem pela terceira...em conversa de propinas fico a saber que o prazo para a candidatura a bolsas de estudo já terminou. Volto à sala. Acertei em cheio em oito e ao lado numas poucas. Preocupada com o prazo da candidatura desligo-me da nota e corro para os serviços sociais. Tiro uma senha e espero. A senhora diz-me que o prazo foi prolongado e que ainda há esperança para mim. Saio de lá depois das duas, sem almoço e com a incumbência de abrir a porta do Centro às duas e meia.
O carro poderia voar se não fosse o insuportável barulho que sai da roda dianteira do lugar do morto. Poderia apostar que se trata de um rolamento a dar o berro. Há duas semanas atrás deixei-o no mecânico que mo devolveu alegando que o carro não tinha nada. Hoje, ao telefone, a pessoa do outro lado da linha ouvia o mesmo barulho que eu! Há mecânicos que deveriam ser uma outra coisa qualquer.
Entro em casa para almoçar às duas e um quarto, como em dez minutos, O comer nem te faz proveito, diz a mãe e tem razão. Saio a correr e chego um quarto de hora atrasada.
Tanta lida, pouca vida, diz a mãe mais uma vez, e tem razão.
O pai, entretanto, já se recompôs - já sorri outra vez.

1 comentário:

CF disse...

Há dias assim...