quinta-feira, 31 de março de 2011

E é isto...

Do Poder e da Autoridade

Não reconheço qualquer tipo de autoridade que não aquela que advém do conhecimento.
Não me submeto a qualquer tipo de poder que não aquele que, absolutamente, me transcende.
Na minha cultura não existem lugares cativos nem postos vitalícios.
Na minha cultura não existem direitos automaticamente inerentes a este ou àquele posto; a esta ou àquela condição.
Na minha cultura as relações estabelecem-se com base no respeito, na igualdade e no afecto, enquanto seres humanos; e na competência e na sabedoria enquanto seres cognitivos.
Na minha cultura a minha casa é o meu reino e a hospitalidade com que recebo quem lá entra deve ser reconhecida e respeitada.

quarta-feira, 30 de março de 2011

terça-feira, 29 de março de 2011

Prós e Contras

Ontem durante o programa Prós e Contras lembrei-me do Estado Novo, de Salazar e da expressão “pobretes mas alegretes”.
Não que não tenha compreendido o que o padre quis dizer. Compreendi perfeitamente e também sei, ou imagino, que nada semelhante ao Estado Novo lhe passou pela cabeça. A questão é: quantas foram as pessoas que compreenderam?, à parte aquelas que “sentem” que, se queremos seguir o caminho da humanização, teremos de reduzir substancialmente a importância que dedicamos ao consumo – o “ser” em substituição do “ter” – há anos que oiço falar disto!
Os portugueses já foram pobres, a grande maioria pelo menos. Não estas gerações que nasceram nestes anos gloriosos mas as mais antigas, as mais cansadas. Já foram pobres. E ignorantes.
À excepção da URSS não conheço mais nenhum país onde um povo pudesse ter sido pobre e culto ao mesmo tempo. Mas que sei eu?! Pode ser que sim. Que haja mais…Não Portugal! Para além de “pobretes mas alegretes” fomos também “orgulhosamente sós”, e ninguém “orgulhosamente só” evolui.
Talvez que a questão aqui seja o terrível desconforto de estarmos a caminhar para um Brasil que está, por sua vez, a deixar de o ser; o terrível desconforto feito das crescentes desigualdades.
Porque ser pobre, ou remediado, não é vergonha quando um povo está verdadeiramente unido e empenhado em deixar, verdadeiramente, de o ser. Eis aquilo que nós nunca fizemos! Ninguém deixa de ser pobre com o dinheiro dos outros! E ninguém pode exaltar as virtudes da pobreza quando come, bebe, estuda e tem saúde porque a pode pagar.
Talvez o erro esteja no termo – pobre -, talvez seja preciso inventar um outro termo qualquer, que não “pobre” ou “remediado” – são deprimentes e nós não precisamos de mais depressão. Porque não “singelo”? singelo, simples…
E agora saíamos da UE. E agora redistribuíamos a riqueza que por cá habita nas mãos de alguns (atenção que teríamos de o fazer antes que eles fugissem, por exemplo, para o Brasil). E agora desatávamos a lavrar a terra e voltávamos a cultivar os nossos próprios alimentos. E agora empenhávamo-nos todos na construção de um país.
E depois, só depois, voltaríamos a exigir aquilo com que sonhámos tantos anos e para o qual estendemos as mãos vazias e ávidas – o sistema nacional de saúde; os subsídios e as reformas e até, quem sabe, a semana-inglesa. Porque um patrão, se quer levar a sua empresa adiante, não tem dias marcados para o descanso.
Temos é de saber explicar isto muito bem explicadinho às gerações mais novas. Àquelas que cresceram a acreditar que nasceram num país desenvolvido, moderno, farto. Às que cresceram sem saber o que é o “espírito de sacrifício” – outra máxima do Estado Novo.
Se formos a ver bem, nem tudo esteve mal, como nem tudo está mal agora. Depende daquilo que cada um de nós for capaz de fazer. A História pode ajudar. Tiramos umas coisas daqui, outras dali e pode até ser que cheguemos a algum lado. Eu quero acreditar que sim. Só não sei é se o conseguiremos mantendo as mesmas dependências e acordos que temos mantido até aqui…

Poder

No fim, pouco importa a realidade. Importa, isso sim, se lhe damos ou não o mesmo nome.
Pouco importa de que lado está a razão, desde que estejamos, nós, do mesmo lado.
A realidade pertence a cada um e cada um constrói a sua.
A razão, essa, não pertence a ninguém. E, nos dias que correm, não se encontra em lado nenhum.

domingo, 27 de março de 2011

Prece

Senhor dai-me forças para enfrentar tanta ignorância.
Dai-me paciência para aturar tanta estupidez.
Dai-me calma e sabedoria para comunicar com os pobres de espírito, que são mais do que o desejável.
Amém

sábado, 26 de março de 2011

Extremos

Sempre que me dá para simplificar divido o mundo ao meio e empurro, para um lado o preto e para o outro o branco.

Neste mundo binário existem dois tipos de gentes:
Aqueles que pouco ou nada fazem para conquistar seja o que for porque as coisas sempre lhes foram aparecendo e foi-lhes explicado que “as coisas são como são”, por isso, quando “não são” é porque “não têm de ser”, para além de que há coisas que fazem parte de outras, geralmente daquelas que sempre foram aparecendo, e uma coisa puxa a outra.
E aqueles para quem “não há almoços de borla” e que por tudo têm de esgravatar.
Os primeiros não tiveram a oportunidade de aprender a arte da sedução. Nem sabem o que isso é.
Os segundos são verdadeiros especialistas.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Fonte fidedigna

Quando penso que existem, no mundo, 23 mil armas nucleares, muitas delas prontas a ser disparadas. Quando penso que o lançamento de um míssil destes pode ser provocado por um simples erro informático, ou que um qualquer doido não autorizado o pode fazer e que os líderes dos Estados Unidos e da Rússia têm meia hora para decidir se retaliam ou não, todos os outros problemas se reduzem à mesma escala que aumenta a certeza de que hoje, e neste preciso momento, estou viva.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Memórias

Na nossa memória as pessoas não crescem, as árvores não morrem, as casas não caem.
Na nossa memória ninguém envelhece, as coisas não mudam.
E nessa memória que cristaliza tudo o que vê, ou se é velho ou se é novo, ou se é terra ou se é árvore, ou se é tudo ou se é nada.
Sabe tudo o que foi e tudo o que é, a nossa memória,
onde as coisas existem em tempos tão certos,  que é como se o tempo não deslizasse ao longo de si, antes saltasse.
Quem sabe é por isso que todos gostamos de lá habitar – na nossa memória.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Vale mais tarde que nunca

Finalmente percebi a origem da bonança que segue sempre uma tempestade – na verdade não é mais do que o efeito sedativo da extraordinária quantidade de adrenalina que a tempestade nos injecta. Ficamos a modos que anestesiados e, mesmo que nos quiséssemos manter em estado de sítio, ou de pânico o que vai dar no mesmo, não o conseguiríamos – o corpo não deixava.

Penso que deve ter sido isso que deu aquela calma ao Primeiro-ministro. A mim, foi.

terça-feira, 22 de março de 2011

Antes triste...

“Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons."    Marcus T. Cícero
Tudo, e todos à minha volta parecem existir com o propósito de despertar o que de mais negro a minha alma tem.
E quanto mais carregado o meu cenho mais a coisa se adensa e já acredito que sou mesmo assim – franzida, grave, pesada, azeda, terrivelmente azeda…
…antes triste. Prefiro a tristeza…
E lembro-me de Cícero, e a minha expressão suaviza. Sinto-a a suavizar-se como se não me pertencesse, vejo-a e penso sorrindo – encontrei o meu mantra.
Há momentos em que todos precisamos de um…

segunda-feira, 21 de março de 2011

Governo de Salvação Nacional

Não me parece bem que, no estado a que chegámos, ainda se vá perder tempo e dinheiro, que não temos, em eleições – não me parece bem. E não estou sozinha.
Talvez o ser humano em geral, ou o português em particular, sofra da tão badalada “atracção pelo abismo” e, quanto mais perto está dele, mais passos em frente dá!
Um Governo de Salvação Nacional! Eis o que nós precisávamos – Um Governo de Salvação Nacional.
Assim, o presidente da República (e afinal ele serve para quê?!), elegia um governo composto pelos crème de la crème. Sem atender a idades, partidos ou disponibilidade – os escolhidos não poderiam recusar. E seriam os melhores; os mais profissionais; os mais capacitados para nos tirar deste buraco em que esbracejamos para não nos enterrarmos, sem saber ainda muito bem se se vai enchendo de lodo ou de água e se deveremos temer as chuvas ou a seca.
Um Governo de Salvação Nacional. Porque, a votos – não vamos lá.
É que nem sei em quem votar! Se voto em branco estou a cavar; se voto à direita ponho em risco tudo aquilo porque se lutou tantos anos – o estado Providência que, diga-se em abono da verdade, é um dos grandes berbicachos a resolver; se voto à esquerda arrisco-me a acordar no País das Maravilhas, Terra do Faz-de-Conta!
Tempo e dinheiro! Vamos perder tempo e dinheiro!

domingo, 20 de março de 2011

Do mundo

Um mundo dividido entre direitos e deveres é um mundo chato, aborrecido e muito pouco produtivo.
Um mundo suportado no binário causa-efeito é um mundo poucochinho, pequenino, limitado, paupérrimo – um mesmo efeito pode ter muitas causas e uma mesma causa, muitos efeitos.
Um mundo, para ser mundo onde se viva tem de ter espontaneidade, imprevisibilidade, criatividade, sedução, conquista, risco.
Um mundo, para ser mundo onde se viva, tem de ser surpreendente!

Sou lenta

Penso que já tive oportunidade de o dizer e, se não tive, digo-o agora - sou lenta.

Ao longo dos anos tenho aprendido a ser mais célere nas reacções, não as espontâneas e emotivas que nessas fui sempre, mas naquelas mais inteligentes e comedidas, porque qualquer pessoa podia dizer o que lhe apetecesse que eu ficava muda e calada e só tarde de mais é que me vinham à ideia coisas que deveria ter dito ou feito.

O que eu não sabia é que o meu corpo também leva o seu tempo a responder aos estímulos (enfim, nem todos...). O médico, quando me receitou os tais comprimidos na sequência do programa para deixar de fumar, avisou-me que, provavelmente, me sentiria enjoada nos primeiros dias. Não senti coisa nenhuma! Sinto agora! Ao cabo de 15 dias de tratamento, ando enjoada e cheia de alforrecas na barriga!

É claro que, como tudo, isto tem as suas vantagens - não consigo comer o suficiente para engordar o que é costume quando se deixa de fumar.

sábado, 19 de março de 2011

Já que estou numa de poesia...

Sou de ferro e de algodão
Rocha escondida na duna
Sou rouxinol e falcão
Sou tudo e coisa nenhuma

Sou a floresta e a árvore
A baía e o oceano
Sou a mata a despertar
Sou o mote. Sou o dano.

Sou a luz e sou as trevas
Sou a alegria e a tristeza
Sou raiz. Sou folha e ervas
Pão e vinho sobre a mesa

Sou formiga num canteiro
Estátua esplendor da avenida
Sou a ponte e o ribeiro
Sou o ódio e a alma querida

Sou a que chega e a que parte
A que fica se quiser
Sou a obra. Sou a arte.
Sou pessoa. Sou mulher.
A. Couto

sexta-feira, 18 de março de 2011

Invictus

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.
William Ernest Henley

Desânimo

Às portas do meu 53º aniversário (não falta muito, é já em Maio), quero continuar a acreditar que o esforço compensa. Foi esse o “peixe” que sempre me venderam e aquele em que sempre acreditei – quem realmente se esforça consegue, atinge, chega lá. Mas quem é que determina essa chegada?! Quem é que recompensa e reconhece o esforço de outrem?
Aqueles que estão nos topos, seja de instituições, grandes empresas ou Governo, não fazem a mínima ideia da luta que se trava nas bases, do esforço que se faz, e vão pedindo mais, todos os dias, e uma pessoa pensa - só mais um bocadinho, agora, nesta altura tão crítica, só mais um bocadinho porque o reconhecimento chegará mas, de bocadinho em bocadinho não nos damos conta que o elástico já pouco ou nada estica, que o cansaço já começa a ser extremo e que o desânimo já está de mão levantada, pronto para nos bater à porta.
Não são só as leis que vêm de quem governa, são os aproveitamentos vergonhosos daqueles que, ocupando posições vantajosas, vão fazendo da situação. Parece que a febre dos números atingiu toda a gente e tudo serve de desculpa para dar mais uma machadada em quem, como eu, ainda acredita que vale a pena lutar e que o esforço compensará.
É gente que está cá em baixo a lutar por isto. É gente! Não são números, cavalheiros! É gente!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sinais

Neste preciso momento, em que escrevo estas palavras, tenho o corpo a gritar por todos os lados: Vai mas é para casa pá! e vê lá se te deitas cedo!
Desde os dedos dos pés, que por sinal estão gelados! o que não é costume, até ao cocuruto da cabeça onde uma, ou duas..., ligeiras tonturas já conseguiram desviar-me, por escassos segundos, o olhar do papel (digamos que de repente o papel fugiu debaixo dos olhos), tudo me pede cama, quem me dera que fosse já sexta-feira...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Registem, que é importante

Há alturas, na vida, que são cruciais. Com sorte pode haver até mais do que uma mas, grosso modo, há uma primordial em que o caminho que escolhemos é, quase, irreversível. Não que o seja, que isso não existe, mas, digamos, que a desistência, uma vez escolhido o caminho, tem custos bastante elevados.
Assim, na derradeira hora da decisão, há que ter em conta o seguinte: A escolha deve ser sempre, mas sempre, feita com o coração. Ainda que a cabeça participe, o coração tem de concordar. Caso contrário a coisa ficará, mais cedo ou mais tarde, muito mal parada.
Critérios de escolha a NÃO aplicar:
- Preguiça;
- medo;
- falta de confiança/descrença nas capacidades próprias ou no conhecimento;
- interesses, sejam eles materiais ou não.
E quando me refiro a "interesses", refiro-me àquelas escolhas que têm, à partida, o objectivo de vir a receber, mais cedo ou mais tarde, uma qualquer moeda de troca, seja ela material, afectiva ou moral - não se devem, nunca, fazer escolha com base nestes pressupostos.
Depois digam que não os avisei...

terça-feira, 15 de março de 2011

Lamento

Isto não adianta nem atrasa. Provavelmente nem tem interesse. É apenas um desabafo, nada mais.
Todos sabemos que a vida é precária, as condições são precárias, a saúde é precária, tudo é precário porque hoje existe e amanhã já não e ainda que se diga que tudo isto é mais precário para uns do que outros, a verdade é que precariedade é precariedade e a única diferença é que uns caem com um sopro enquanto outros precisam de um siroco. Mas como nunca sabemos quando vem um ou outro – a precariedade é igual para todos.
Veja-se o Japão! Não consigo ver as imagens, que mudam todos os dias, sem que o meu coração não se aperte. Coitadinhos! Coitadinhos dos japoneses! Quando os desastres são noutros países, naqueles que não têm condições, que não têm infra-estruturas, somos capazes de dizer à boca cheia: Pois! Não me admira nada que tenham morrido tantos! Com casa como aquelas! E os japoneses?! Tão preparados! Ninguém, no mundo, estava tão preparado como este povo! Ninguém.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A vida não dá descanso...

...a cada passo em frente seguem-se dois para trás!
Provavelmente é para a gente não se habituar mal...
Só me apetece dizer asneiras!

domingo, 13 de março de 2011

Um bocadinho de criatividade nunca fez mal a ninguém

Veio-me à ideia que era capaz de ser um excelente treino, útil sobretudo, começarmos a dar sugestões ao ritmo de um brainstorm, sem nos preocuparmos com originalidade ou mesmo exequibilidade. O que interessa é substituirmos as críticas e as denúncias – ao que parece já estamos todos bem informados sobre a situação, não vale a pena bater mais no ceguinho – por sugestões. Quem sabe não surgem algumas ideias que se possam aproveitar.
Aqui vai a primeira:
* Criar uma lei que determine que qualquer empresa ou particular que usufrua de lucros ou rendimentos superiores a uma determinada quantia, será “convidado” ao investimento de uma determinada percentagem dessa quantia. O investimento terá de ser efectivamente produtivo e terá de criar um número de postos de trabalho percentual ao próprio investimento. Caso esse investimento não tenha lugar, a empresa ou particular serão taxados pelo mesmo valor e competirá ao Estado a sua aplicação, sendo que a empresa formada ficará, assim, sob a alçada do Estado.
Nota: O investimento a que o estado se obriga seguirá todos os trâmites e obrigatoriedades do investimento que tivesse sido feito por outrem.

Da Educação e Do Estado Novo

Quem foi educado durante o Estado Novo, no estrito cumprimento das suas regras, na plena absorção da sua moral, aprendeu que o mundo estava dividido em dois hemisférios.
Num dos hemisférios habitavam os agraciados por Deus; os que nasceram com o “cu virado para a Lua”; os poderosos; os instruídos; os chefes; os patrões; os abastados; os prósperos, e por aí fora que não me ocorrem, de momento, mais epítetos para tão nobres gentes.
No outro viviam os pobrezinhos; os remediados; os analfabetos; os ignorantes; os fracos; os operários; os subordinados; os malnascidos; os castigados; os desprotegidos; os humildes…
…e, para os proteger, estavam cá os outros, os primeiros, os que habitavam no outro hemisfério. Salazar era uma espécie de pai que incumbia uma espécie de paternidade a todos os habitantes “superiores”.
Assim, fazia parte da educação destes seres, a caridade. Não a caridade como hoje é vista, com compaixão, não. A caridadezinha. A caridadezinha era a forma mais sólida e “santa” de nos tornarmos num veículo do Senhor e, ao mesmo tempo, mantermos o status quo. “Com papas e bolos se enganam os tolos” dizia o povo ao mesmo tempo que os engolia e lambia os beiços.
O ensino estava lá para todos mas a vontade de Deus dizia que os pobres seriam sempre pobres e até, meu Deus, era pecado a vontade de deixar de o ser! Muito pelo contrário, conquistaria o reino dos céus todo aquele que se contentasse com o que Deus para ele tinha reservado. A palavra de ordem era – resignação.
Todos se resignavam, os mais nobres e os mais humildes, sendo que para uns era mais difícil do que para outros. Mas todos acreditavam, ou quase todos, que aquela era a vontade de Deus e que assim deveria ser o estado das coisas.
Havia emprego para todos os que queriam trabalhar. Eram poucos os qualificados e estou em crer que a maioria nem habitava por cá. Portugal era, sem dúvida, um país desqualificado. Mas havia emprego para todos os que queriam trabalhar. E até se conseguiam coisas simpáticas com meia dúzia de anos de escola já que “em terra de cegos, quem tem um olho é rei”.
Acontece que a educação se entranha na alma das gentes e leva gerações a dissipar-se. São precisos muitos anos de vida para se abarcar todas as modificações necessárias a uma mais justa partilha, a uma cisão de hemisférios.
Quem cresceu durante o Estado Novo, cresceu a acreditar que o segredo dessa cisão estava na instrução, por isso insistiu para que os seus filhos se instruíssem, que fossem para a faculdade, que lutassem por uma vida melhor porque, uma vida melhor conquistar-se-ia, sem dúvida, por via de uma maior instrução – O meu filho há-de ser Doutor! E havemos de sair desta miséria!
Não nos lembrámos então que o hemisfério dos desfavorecidos tinha uma densidade demográfica muito superior ao outro e que o número de empregos disponíveis não seria o suficiente para “encaixar” tantos letrados.
Hoje somos um país de gente classificada mas sem emprego. Hoje temos de inventar. Temos de ser criativos e temos, a nosso favor, um povo classificado. Um povo que já não quer ser “ajudado” com papas e bolos e que sabe distinguir a caridade da caridadezinha. Um povo que já não é cego, nem tão ignorante como era há 40 anos.
Um povo que tem consciência que, no outro hemisfério, o dos “agraciados de Deus”, ainda se acomodam alguns, enroscados nas suas velhas mantas, trancados a sete chaves, pedindo a Deus que o mundo não desabe e que não sejam forçados a partilhar o tanto que têm, investindo e criando os empregos que faltam e a riqueza que só nasce de um aumento significativo da produção.

sábado, 12 de março de 2011

Mentiria se dissesse que não estou de boca aberta!
Não me lembro, senão no primeiro 1º de Maio, de tal ajuntamento!
Mentiria se dissesse que não me sinto, neste momento, orgulhosa deste povo.
Como disse uma senhora sexagenária - Estavam a dormir e acordaram.
Não se deixem adormecer outra vez.

"À Rasca"

A manifestação da Geração À Rasca está a transformar-se na manifestação de um Povo À Rasca.
Não são apenas os jovens que vão encher as ruas das várias cidades. Pelos vistos haverá cotas de meia-idade e gente que, às portas da reforma, teme ir para casa com uns míseros 300 euros ao fim de 30 e tal anos de trabalho em Instituições não-governamentais, sem receber subsídio de Natal ou de férias, sem esperança de nada porque chegaram, ou estão a chegar, ao fim da linha.
A Geração À Rasca ainda vai a tempo, esta gente não e, se há alguns dias atrás hesitei quanto à adesão a este evento, hoje acho que sim, que mesmo que não estejam bem definidas as reivindicações, que não me parecem estar, bastará a união como começo. Pode ser que, a partir dela, se faça qualquer coisa – se formem, por exemplo e como dizia uma das mentoras há alguns minutos na televisão, grupos organizados de intervenção social.
Eu ficarei em casa - tenho um trabalho para entregar 2ª Feira que não se compadece com manifestações – porque é a forma mais objectiva que tenho de não ficar "à rasca".

sexta-feira, 11 de março de 2011

Da solidão

Há quem sofra com a solidão. Eu sofri. Horrores! Só a hipótese de ficar triste só e abandonada para o resto da minha vida, passar à terceira idade sem um companheiro, envelhecer por conta própria, me pareciam o fim do mundo, pelo menos do meu. Amigos que me acompanharam nessa época sabem do que falo. Era um terror que se deitava e se levantava comigo e que me fazia desejar, todos os dias, um companheiro amoroso que me arrancasse desse triste fim.
É claro que, como quase tudo na vida, quando se vive obcecado com qualquer coisa, ansioso e amedrontado com a inexistência dessa mesma coisa, é precisamente quando ela teima em não dar qualquer ar da sua graça e nos faz deambular por aí confundindo sistematicamente merda com pasteis de nata. Pois foi o que me aconteceu várias vezes até me "ajeitar" nesse estado que tanto temia - o de uma mulher por conta própria. E ajeitei-me de tal forma que o medo se foi dissipando e aquilo que para mim era antes solidão, passou a ser o desfrutar da minha agradável companhia.
Lia mais; estava mais com os meus amigos; fazia o que muito bem entendia quando entendia, e assim me fui habituando a esta maravilhosa independência e a toda a liberdade que ela traz. De tal maneira que deixei de procurar, ou mesmo desejar, o tal companheiro que na verdade não existe... Acomodei-me nesta minha liberta forma de estar e ver o mundo. Já não tenho medo da solidão porque acredito que ela não existe quando se tem amigos, quando se gosta de ler, de escrever e de pensar quando, ao fim e ao cabo, se precisa até de algum tempo dedicado ao silêncio e ao abandono, sem ninguém que nos chateie, directa ou indirectamente, sem ninguém que peça, que exija, que reclame. E, a verdade, é que para trocar este meu estar, só por um outro muito, mas mesmo muito melhor.
Quem gosta de ler nunca está só e os livros têm uma enorme vantagem - não discutem. E eu detesto discussões. E adoro ler.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Da estabilidade e da segurança - para a geração que se diz "à rasca"

O que é a estabilidade? E a segurança? Se é que não são uma e a mesma coisa…
Algo que não existe a longo, nem muitas vezes a médio prazo?
Algo que inventámos para nos sossegar o espírito mas que, na verdade, não passa de uma ilusão?
Fazemos as nossas escolhas, a partir de uma determinada idade porque até lá já a vida escolheu por nós e nem sequer a concebemos de uma outra maneira ou pensamos sobre isso mas, de repente, um tremor de terra deita-nos ao chão; um vendaval leva-nos o telhado; o céu cai-nos em cima da cabeça, ou o chão nos foge debaixo dos pés, ou isto tudo ao mesmo tempo… e temos de nos adaptar a uma nova situação, novinha em folha e inimaginável até então.
Adaptamo-nos e construímos a partir dela, convencidos que agora sim, agora é que é, e convencidos que somos os mesmos quando na verdade já somos outros porque o que éramos morreu para dar lugar a um outro que vamos conhecendo com o passar do tempo. Contudo, e mais uma vez, um outro fenómeno qualquer abalroa-nos a construção e lá vamos nós a enterrar e a ressuscitar e a recomeçar, quais fénixes, para voltarmos a cair, se for preciso, porque nem o que nos parece mais sólido na verdade o é quando o vento uiva e a terra treme.
E isto pode, na verdade, acontecer tantas vezes quantas aquelas que forem necessárias para compreendermos que a vida, afinal, é mesmo assim e que é sobre este tapete que a deveremos desenhar, fazendo tudo como se a tal segurança existisse e acreditando que, no fim, se formos determinados, convictos e corajosos tudo irá dar certo.
E trabalharemos, casaremos, ou não, criaremos filhos e envelheceremos como os outros, rodeados de netos e mais, muito mais, sábios porque a vida teve a amabilidade de nos proporcionar um vasto, por vezes vastíssimo, leque de experiências.

terça-feira, 8 de março de 2011

Hoje são muitos dias num só. E como sempre que a oferta é grande somos obrigados a escolher, eu escolho o aniversário da minha primogénita.

domingo, 6 de março de 2011

Gosto tanto disto


Sergio Godinho a noite passada.avi
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É todo um Novo Mundo!

Para quem, como eu, o cheiro é mais de meio caminho andado, é maravilhoso voltar a sentir o perfume da roupa lavada; do champô e do banho que fica, agora, à margem da conspurcação do fumo e dura…dura…dura...
Lavei tudo. Mudei tudo. Até de perfume.
Só o automóvel escapou à barrela. Ficará como ícone do antes, não vá eu esquecer-me…
Quanto ao esforço, não se tem demonstrado gigante. Ao que parece o tratamento resulta mesmo – nem dores de cabeça, nem ansiedades. Só tranquilidade e perfumes. Muitos perfumes.

sábado, 5 de março de 2011

Dia "D"

Era para ser ontem, mas é hoje. Calculo que seja esta minha independência, para não lhe chamar obsessão pelo controle do que me acontece, quando me acontece e porque me acontece, e é por ela que tantas vezes me stresso…
Após uma consulta antitabágica, urgia marcar o dia em que os cigarros, os cinzeiros, os isqueiros e outros eiros teriam como destino o lixo ou um recôndito armário reservado aos utensílios que só certas visitas exigem. O dia foi marcado a partir de uma contagem de calendário em que o dia 1 seria aquele em que eu iniciaria o tratamento, à base de comprimidos, e o dia D o 8º ou o 14º, ou 15º já não me lembro, da toma. Assim ficou agendado para o dia 6 o início da minha cruzada como não fumadora.
Acontece que ontem acabaram-se os cigarros e eu pensei cá para comigo: Mas por que raio é que vou comprar mais um maço por causa de um dia, se eu nem sequer fumo um maço por dia?!
E pronto – aqui estou eu a iniciar mais uma cruzada. Vou dando notícias.

sexta-feira, 4 de março de 2011

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Tremo cada vez que vejo o pouco que mostram do que se passa na Líbia. Tremo, por dentro e por fora. Não tenho medo de muitas coisas, mas tenho medo da guerra. E dou por mim a tentar discernir os interesses deste e daquele; até que ponto é que…; se isto se alastrar estaremos por lá ou será possível conservarmo-nos assim a modos como que “neutros”…e não discirno nada. E tremo.
Não está esquecida a época em que convinha que os jovens entrassem na Universidade e não reprovassem ano nenhum. Eram cinco anos de garantia. Hoje são só três e eu tremo. Não por mim que aguento qualquer guerra. Mas por ser mãe de quem sou.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Vergonha, é o que sinto - VERGONHA

Ele há coisas que fazem mais sentido do que outras, pelo menos para mim que isto do sentido das coisas é como os juízos – são relativos.
Que sentido é que faz a condenação de um jovem de 21 anos a sessenta dias de cadeia por ter escrito, há três anos atrás, uma frase romântica num muro qualquer?! O que será que se pretendeu ensinar a este jovem romântico quando, por falta de verba para o pagamento da multa, a mãe solicitou ao tribunal que a dita fosse substituída por trabalho comunitário e o pedido lhe foi negado?!
Que sentido faz que andem por aí à solta gajos que abusaram, violaram, roubaram e sabe Deus mais o quê?!
E para quem está a pensar que isto, de nos safarmos ou não, está directamente relacionado com o poder, quer económico quer social, desengane-se. Há mais de dez anos fui roubada por uma empregada doméstica. A senhora, em quem eu confiava qb, conseguiu tirar-me da mala dois cheques e o BI para que a falsa assinatura não parecesse tão falsa assim. O facto é que o banco lhos pagou! Se ela alguma vez chegou a ser presa? Não! Mas eu andei DEZ anos! Isso mesmo – DEZ anos, a caminho do tribunal de Almada, sob ameaça de multa, a perder manhãs inteiras num julgamento sucessivamente adiado por falta de comparência da arguida com quem me cruzei várias vezes no café da esquina mas que a GNR nunca conseguiu encontrar!Provavelmente, o mal do jovem romântico foi não ter mudado de residência.

Alguém me explica isto?!

O Sócrates está em Berlim. O mundo Árabe está como está. E os telejornais abrem com o Sporting - Benfica?!!!!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Temperamentos...

Não gosto de imitações. Contrafacção não é para mim. Se não puder chegar ao original escolho nada, ou outra coisa qualquer.

terça-feira, 1 de março de 2011

Maratona. A minha...

A primeira coisa que faço assim que abro os olhos, ou mesmo antes de os abrir, é pensar – Que dia é hoje? O que é que há para fazer?
Entre o Centro, as revisões e a faculdade, não há espaço para mais nada, excepto uma fenda ou outra onde encaixo a família e pouco mais.
Sem sábados, sem domingos, sem feriados, os dias passam iguais e contínuos nas suas diferenças e eu acredito que é só mais um pouco; que sou uma maratonista e que, se me mantiver assim, num ritmo cadenciado e curto, chegarei vitoriosa ao destino.
E sim, é verdade que não desisti. Estive na eminência de…durante o impacto de alterações fulminantes, mas não, não desisti. Racionalizei a coisa, optimizei tarefas e acabei por ir a exame final a quase tudo e a conseguir transitar para este semestre sem deixar uma, nem uma, cadeira por fazer. Ah pois é!...