domingo, 5 de fevereiro de 2012

A Família

Quando reservei as mesas não tinha a certeza do número de presenças. Há anos que não nos juntávamos. Penso que desde o último funeral e, mesmo aí, aparecemos um bocadinho desencontrados. Somos, ou éramos, sete primos, a maioria com filhos, alguns já com netos. Durante a nossa vida de adultos juntámo-nos talvez duas ou três vezes, todos, ou quase todos, há sempre alguém que fica de fora, impossibilitado pela distância. Ontem ficaram dois, mergulhados nas neves que não param de cair a norte deste velho continente; e mais três que já cá não estão – uma prima e duas tias. Em tom de compensação rebuscámos uma amiga de infância da primeira geração, que conta já com 88 anos e que reconheceu imediatamente um avô que não via desde menino, se ele fosse careca compreender-se-ia o imediato reconhecimento, como não é o caso…

Juntámos quatro gerações para festejar os oitenta anos da minha mãe. O mais novo, o Zé Maria, nasceu há um mês e portou-se tão bem que nem demos por ele. Dormiu o tempo todo, a despeito das preocupações da bisavó que se escandalizou com a vinda do menino. A geração número três encheu a mesa, deu-lhe alegria e contagiou os da segunda que ainda se sentem mais próximos dos filhos do que dos pais. Os mais velhos comoveram-se e o meu pai, que ultimamente tem convivido com a morte mais do que costumava, deixou-se arrastar pela melancolia da dúvida eterna – será que ainda vou andar por cá quando uma coisa destas se repetir?

Foi o mesmo há pouco tempo, quando o meu irmão, depois de ter passado uma semana connosco, teve de voltar para casa, numa ilha do mar do Norte. Chorou, como chora sempre, sem saber se o voltará a ver ou não. Não creio que seja a morte que o amedronta, é antes a partida, a separação.

3 comentários:

Maria_S disse...

Pronto lá me caiu uma lágrima :(. Bjs.

CF disse...

:) Sorrisos. A separação e a ignorância no futuro, dói sempre. Mas entretanto já arrisco dizer que fazem parte da vida esses sentimentos fortes que se experimentam por vezes. Não sendo possível bani-los, há que saber vivê-los e guardar o bom que têm. A ligação, por exemplo, extraordinária. Um beijinho.

Sputnick disse...

Bonito, Amiga :)