quarta-feira, 4 de julho de 2012

Só porque sim


Dá erros quando fala. Como se sofresse de alguma espécie de dislexia. Os seus olhos, verdes azeitona, são mais profundos do que o mar em dias de sol, e falam. Dizem o que a boca não sabe, as palavras desconhecidas.

Ao lado dela está sentado o último filho. Embrião gerado no acaso e desenvolvido na loucura e no despropósito. Uma mancha vermelha ocupa-lhe parte da face e do pescoço provocando-lhe babas que impedem o natural desabrochar dos pelos faciais, tão ansiados pelos jovens. A boca, torcida para o lado contrário, não esconde a língua que pende a maior parte do tempo. O corpanzil é grande, e a força, diz a mãe, difícil de controlar quando se irrita. A mente é, e será sempre, a de uma criança apesar de fazer questão de provar, à custa sabe Deus de quê, a sua autonomia.

Ela ama-o. Terrivelmente. Ainda que de vez em quando lhe passe pela cabeça desistir. 

Mas sempre que o medo ameaça gelar-lhe as entranhas ou paralisar-lhe os sentidos, sente os braços descair e é com esforço que os eleva, a eles e ao olhar, numa tentativa de divagar sobre a importância do sagrado, esperando que Deus a oiça e venha em seu socorro, devolver-lhe a força sem a qual sucumbirá.

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