quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ao meu irmão, que acabou de regressar a casa


Se há momentos em que a vida me parece uma bênção, outros há em que ela se me afigura uma amálgama de sacrifícios e momentos que eu preferia não viver – uma amálgama de incompreensíveis dores de coração, e mais valia que o tivéssemos só a ele, escusávamos de sentir estas dores, muito mais dores que tantas outras que inventámos.

Separarmo-nos de quem amamos é sempre tão triste. Tão triste. Podem passar anos e anos e anos, que nunca se apanha o hábito e se não se chora já no momento, chora-se depois, no dia seguinte em que se acorda e ele já cá não está.

Depressa nos habituamos ao que nos é querido. Nunca nos habituamos à sua ausência.

Merda de mundo este que separa quem se quer. Temos caminhado sempre em direcção a tudo o que de nós está mais distante. E mesmo que isto não seja exatamente assim, é assim que o sinto, agora, neste mesmo instante.

(A Puca apaixonou-se por ele e tem estado toda a manhã tão triste quanto nós. Nem come, a pobrezinha.)