domingo, 23 de dezembro de 2012

O Natal, o Facebook e a solidão


Nada tem apenas vantagens ou inconvenientes e, por isso, o Facebook também não. Mas nem sempre umas ou outros são óbvios ou tomamos deles consciência assim de imediato.

Um dos inconvenientes, pelo menos para mim, é o alheamento em que me afundo sempre que por lá passo. Se me visse de fora diria que me transformo numa idiota estática, de olhar parado a ler por ler sem pensar, sem avaliar, tal e qual aqueles que, sentados em frente ao televisor, se deixam perder nas imagens dos vários canais que vão mudando sem darem por isso e sem pararem em nenhum como se o gozo estivesse nas sombras que passam e não no significado delas, quais personagens platónicas na alegoria do costume.

No entanto o alheamento não é tão absoluto como se poderá supor e os estados de espírito, os revelados e aqueles que acreditamos encobrir, vão entrando no nosso entendimento de tal forma que acabamos a saber como está este e aquele, gente que nem nunca vimos a não ser em fotografia mas que acreditamos conhecer já, e que cumprimentaríamos se as fotos traduzissem a realidade, o que raramente acontece.

Esse conhecimento, ou reconhecimento, dos estados de espírito alheios, é, sem qualquer sombra de dúvida, uma das grandes vantagens do Facebook.

Por muito que tentemos não existe ninguém que viva feliz os 365 dias do ano. Não existe nenhum adulto responsável que não se sinta, uma vez ou outra, deprimido, frustrado, descontente com a vida, arrependido de passos que deu e que não podem já ser desfeitos porque para trás ninguém anda e, diga-se em abono da verdade, o retorno só se deseja muito porque não se pode ter. Todos temos os nossos dias e a tristeza e a frustração são as nossas companheiras indesejáveis e é a constatação dessa realidade que nos pode ajudar a relativizar as nossas tristezas.

Por muito difícil que a vida seja, o pior mesmo é o isolamento, a sensação de solidão. Ora, para aqueles que estão de facto sozinhos, porque os há, e que vão ao Facebook, saibam que afinal não o estão porque, quando mais não seja, existe toda uma comunidade de gente que sofre, tal como cada um de nós, mas que o faz, ou julga fazer, em privado, sem se manifestar. As dores privadas agudizam-se quando se acredita que são únicas – não são. Há sempre uma dor igual ou maior a habitar mais do que uma alma. E se a sensação de pertença se foi com a partida dos que acreditávamos não partirem nunca, saiba-se que pertencemos todos à mesma espécie e, quando mais não seja por isso, não nos será possível existirmos sós.

1 comentário:

gina henrique disse...

E para contrariar a solidão cá estou eu a desejar um Feliz Natal para si e toda a sua familia.
Um beijo
Gina