quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

C de carniceiro, de cabrão, de cornudo, de capado de tudo o que de pior existir a começar por C. C de câncer


Entrou na família pela porta materna, no tempo dos meus avós. Apanhou-me o avô e uma tia-avó e, não satisfeito com o resultado, veio atrás das tias e de uma prima. Tem-se acomodado mais ou menos nos mesmos lugares ainda que com forças diferentes, o filho da puta, mas em todas tem sido capaz de comer carne, carniceiro que é.

Tempos houve em que o olhei no rosto e pensei que não tinha critério. Mais tarde vim a acreditar que afinal talvez embirrasse com os mais mal dispostos. Hoje confirmo que não tem critério. Não tem critério, nem piedade nenhuma. Não tem compaixão. É cego e surdo. E na sua cegueira destrói vidas que eram lindas até à sua chegada.

Tenho por ele uma raiva cega. Percebo-o hoje. Uma raiva atroz, demente, terrível, imensa, mais do que medonha. Tão grande que só me apetece desafiá-lo como se desafia um touro. Gritar-lhe que venha, que enfrente a minha raiva, contanto que nunca mais, mas nunca mais, toque em quem ainda não viveu.

Família não são apenas os que connosco partilham o sangue. São também aqueles que vimos crescer ao lado dos nossos filhos e eu hoje estou destroçada. Mas quero, e posso, pensar em todos aqueles e aquelas que o venceram, absoluta e totalmente, e acredito que é assim que vai ser, também agora. Mais uma vez.

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