sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Uma história dos diabos



E pronto. Cumpriu-se qualquer coisa a que se poderia chamar destino, já que fado transporta uma conotação pesarosa, arrastada e algo triste. Destino é mais leve, traz sempre agarrado a si o livre arbítrio, que é como quem diz – é o que nós quisermos. Ou desígnio. Desígnio talvez seja mesmo o melhor – cumpriu-se o desígnio e amanhã lá me mudo para o pé dele.

Há coisas que nem se pensa revelar por não se saber bem como. Se se diz isto as pessoas podem ficar a pensar aquilo e se o dito for aquilo, nada garante que as pessoas não se fixem no isto.

Há cerca de 40 anos os meus pais levaram-me a ver uma peça de Tchecov, As três irmãs, representada por um grupo de amadores que mais tarde viria a dar actores de gabarito ao teatro português. Connosco ia um rapaz, filho de uma família vizinha e que, por ser aluno interno do Colégio Militar, só víamos aos fins-de-semana. Foi o meu primeiro namorado. Daqueles que nos vão levar a casa, nos dão a mão e, num momento de loucura, se atrevem um pouco mais e nos beijam de uma forma tão estranha que ficamos sem saber se sim, se sopas.

No intervalo da peça, um grupo de curiosos locais muito mais atrevidos do que nós, invadiu o recinto e um deles encantou-se comigo. Tanto andou, tanto andou que acabámos por casar. Não durou muito, mas casámos.

Anos mais tarde contraí aquele que considero o meu matrimónio. Durou cerca de vinte acidentados anos e dele fizeram parte dois filhos que são a luz dos meus olhos.

Estou só, há sete ou oito anos. Enfim, lá vou namorando que eu sou de namorar, mas nunca mais partilhei gavetas, e nem armários, com homem nenhum.

Até amanhã. Amanhã, pelas nove da manhã, hão-de cá vir uns senhores para me levar a mobília, e as malas, e as loiças, para casa daquele rapaz, filho de uma família vizinha e que, por ser aluno interno do Colégio Militar, só víamos aos fins-de-semana.

4 comentários:

CF disse...

( Felicidades. Muitas :)...)

Anónimo disse...

Que giro :). Muitas felicidades. Bjs. Maria_S

Urbano Gonçalo de Oliveira disse...

Ola´!
Bonita história!
Desejo as maiores felicidades, e que o blog usufrua disso também.
Fica bem.

gina henrique disse...

Eu que estive ausente temporariamente eis que fico perplexa com aquilo que se poderia chamar uma história # do arco da velha# ,mas que é muito interessante lá isso é e que parece mesmo confirmar o tal destino que ora nos parece real ora nos parece virtual.
Claro que para esta estória só posso desejar um final feliz!!!