quarta-feira, 15 de maio de 2013

Moo, o cão pelo qual me apaixonei

Tenho andado ocupada a salvar cães.
 
Foi uma semana carregada de emoção. Mas não é verdade que tenha andado ocupada a salvar cães. Na verdade foi um cão. Um único cão. O cão pelo qual me apaixonei.
 
A primeira vez que o vi, andava a passear a Puca que está cada vez mais confiante e afoita, que se acha invencível e que se atira a tudo quanto é canídeo na certeza de que será ela a dominar, e quanto mais depressa eles souberem isso, melhor.
 
O outro, altivo, estava pespegado a meio do caminho, a olhar-nos.
 
A minha primeira reação foi pegar na Puca ao colo. As pernas fraquejaram-me e pensei – já foste! A parva da cadela levou a mal o colo, lutou e saltou para o chão direta ao bicho que nem se moveu. Grande, de cabeça triangular, com uma mancha negra a tapar-lhe um dos olhos em contraste com o branco do pelo, nem se mexeu. Deixou a cadela refilar, cheirou-a, acalmou-a com o não sei quê que ele tem e que acalma quem tem a ousadia de se aproximar, e seguiu caminho, atrás de nós, como que a dizer, vocês são os tais.
 
Desde então não mais nos deixou a porta. Durante o dia andava por aí, no meio das ervas, a saltar muros, mas à noite aninhava-se ao portão, ou debaixo dos carros, e esperava. Esperava por água, por alimento, por uma manifestação de carinho.
 
Ao fim de algumas semanas não parecia o mesmo. As carraças tinham tomado conta dele. Chupavam-lhe tanto sangue que o animal deixou de ter forças para saltar e ia-se deixando ficar, estendido, na sombra dos automóveis.
 
O meu irmão, que lhe viu a foto e que há muito queria um cão, acreditou ter encontrado o animal perfeito.
 
A semana passou-se entre desinfestações, banhos, veterinária, busca de empresas de transportes de animais…mas passou-se, sobretudo, nesta azáfama interior que começa pelo combate ao medo e acaba num amor quase incondicional. Passou-se sobretudo num crescente apego e no imediato, e necessário, desapego para que o possa enviar para a Holanda sem ficar de coração partido. Passou-se, e continua a passar-se, na certeza de que quem ama escolhe o melhor para o objeto amado e não a satisfação dos seus próprios interesses. E tudo isto é bonito, mas o coração, que é quem sente, não deixa de doer.
 
No final de Junho, o Moo – tal é o nome que lhe foi destinado -, viajará de avião para Amesterdão. Entretanto, passará um mês e meio numa espécie de vigília, junto da veterinária que tratará de tudo o que é preciso tratar para que um animal de companhia possa viajar além-fronteiras.
Todos os dias, eu penso no Moo. Como estará? Sei que já foi operado e tudo correu bem. Estará feliz? Sentirá a minha falta?
 
 

3 comentários:

Leididi disse...

:'(
Vamos mandar o Ramone, a sério, e fico eu com o Moo :D

CF disse...

O Moo teve uma sorte danada... :)

Goldfish disse...

Pode não acreditar, mas quando estive na Holanda e vim cá buscar a Luna estive para lhe chamar Mooi (já não sei bem se se escreve assim), que significa linda lá naquela coisa que eles chamam língua...
Sente a sua falta de certeza e, quando a voltar a ver, vai mostrar-lho, com a gratidão que só os bichos conseguem demonstrar!