segunda-feira, 29 de julho de 2013

J.J. Cale

Ligavam-nos músicas como Cocaine ou After Midnight que ouviamos muitos decibéis acima do recomendável ainda antes de entrarmos no recinto do 2001, no Autódromo do Estoril. Não tinha rosto porque não eram dele as performances. Só tinha nome. À época não existiam computadores e os poucos canais de televisão, nacionais como eram, não transmitiam essas músicas malucas que a malta nova gostava de ouvir. Ficávamo-nos, assim, com as fotos que conseguiamos encontrar em revistas como “Salut les Copains”, que nem todos liam porque não trazia uma palavra em português e o francês era, à semelhança do que continua a ser para muita gente, uma dor de cabeça - não para mim, registe-se -, ou pelas capas dos álbuns onde se exibiam os músicos mas não os compositores. Esses eram nomes, e o dele ficou na memória por ter sido muito bem escolhido. Quem o fez sabia da poda.
 
Ora um nome sem rosto, principalmente um nome que cria sons como os que vibram no mais profundo de nós, facilmente se transforma num mito. São os rostos que nos humanizam. Um homem sem rosto pode muito bem ser um deus.
 
Morreu no sábado, aos 74 anos. A sua foto circula agora pela Internet, exibindo toda a sua humanidade. E foi a olhar para essa humanidade que me comovi com uma das suas mais dignificantes características – a humildade. Aqui está um homem, pensei eu, que viveu para nos enriquecer, sempre, ou quase sempre, escondido atrás dos panos que separam os bastidores das luzes da ribalta, e foi feliz.
 
J.J. Cale, aqui.

1 comentário:

Sputnick disse...

JJ Cale e 2001. Excelente :)