É difícil trabalhar
neste país. E como é difícil viver sem trabalhar – ou pelo menos
sem ganhar dinheiro -, é difícil viver neste país. O que é
triste, porque é um lindo país, mesmo sendo um lugar onde ninguém
reconhece o valor de ninguém.
Creio que não estou
sozinha quando digo que me sinto como Sísifo quase todos os dias.
Sísifo, para quem não
sabe, é um personagem da mitologia grega que está condenado a
repetir sempre a mesma tarefa – empurrar uma pedra gigante montanha
acima -, o facto é que cada vez que está prestes a chegar ao topo, uma
qualquer força irresistível leva a pedra de volta ao ponto de
partida anulando completamente todo o esforço despendido pelo
desgraçado.
Não é só o dinheiro,
mas é também o dinheiro. É o dinheiro, o reconhecimento, o
respeito e a gratidão que vem com ele. Trabalhei dois anos na
Holanda e apesar de trabalhar mais horas do que as que aqui trabalho,
nunca me senti tão cansada como me sinto aqui. Não é o esforço exigido pelo trabalho, é a frustração que vem com a dúvida de
competência:
Será que presto para
alguma coisa? Em que é que as competências que acredito ter se assemelham àquelas que os outros vêem em mim?
Este país é ingrato. Nós
somos ingratos, pedantes, pretensiosos. Olhamo-nos uns aos outros por
cima do ombro. Somos um país de gente frustrada e não
compreendemos, ainda, que somos simultaneamente vítimas e carrascos.
Voltando ao mito de Sísifo
faz sentido referenciar Camus e a sua filosofia de absurdo na qual
este mito é evocado – Será que a realização do absurdo exige o
suicídio, pergunta Camus e responde, quase de imediato, “Não,
exige revolta”.
E o absurdo é, por exemplo, sermos tratados abaixo de cão no nosso próprio país e como profissionais competentes nos países dos outros. O absurdo é sermos pagos abaixo do que é digno no nosso próprio país e com a dignidade que merecemos nos países dos outros. Isto sim, é absurdo.
1 comentário:
~
~ Se os absurdos fossem só esses Antígona...
~ Estamos num país em que proliferam e, talvez não falte muito, para atingimos o nível de absurdidade semelhante ao que viveu Albert Camus.
~ Para o filósofo, era imperativo a revolta.
~ Nós estamos completamente incapacitados de a fazer, pois avisam-nos com zelo, que qualquer situação de instabilidade, fará subir os juros de uma dívida que estamos a pagar, mas que não é nossa.
~ Estamos amordaçados. Desabafamos com os nossos amigos "blogosféricos"...
~ Faríamos uma boa lista de absurdos da presente realidade lusitana!
~ ~ ~ Abraço. ~ ~ ~
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