sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Descendentes de Viriato

Dos refugiados sírios


Há coisas que não podem ser levadas de uma forma leviana e esta é uma delas.

Esta gente anda a fugir de uma guerra sem quartel. Anda a fugir da morte, da maior das misérias, do horror que uma guerra semeia, e fá-lo com os filhos às costas.

Esta gente luta para salvar a prole da guerra e da fome. Há até quem defenda que esta guerra começou exactamente com uma seca sem antecedentes na história da Síria que transformou a zona agrícola num verdadeiro deserto.

A Síria era um país estável. Onde se vivia normalmente apesar da ditadura. As pessoas  trabalhavam, alimentavam-se, divertiam-se e criavam os filhos pacificamente.


Dos portugueses



Por cá não há guerra. Mas também não abunda o trabalho. O desemprego cresceu consideravelmente e as pessoas passaram a ganhar menos e a pagar mais impostos. O número dos sem-abrigo aumentou e desconhece-se o número real daqueles que passam fome porque continua a existir, por aí, muita pobreza envergonhada.

Somos um povo que viveu uma ditadura de quase 50 anos de que poucos se lembram mas que continua  no nosso imaginário colectivo, deixando-nos de pé atrás. Afinal de contas, e apesar dos pesares, somos hoje um povo livre que pode rezar a quem quiser, vestir o que quiser, dizer o que quiser mesmo que sejam disparates, e não queremos perder essa liberdade. Aliás, não o saberíamos fazer. Pelo menos eu, pela parte que me toca, estaria disposta a morrer por ela.

As mensagens que recebemos sobre o povo muçulmano em geral, venham elas de onde vierem, não são as melhores. A forma como esta religião trata as mulheres é, em certas zonas do mundo, absolutamente escabrosa; o fundamentalismo de certas facções muçulmanas é medieval, e as notícias constantes sobre terroristas que entram disfarçados na Europa onde montam, muitas vezes, quartel, leva muitos de nós a questionar até que ponto corremos riscos com esta entrada em massa, não apenas no nosso país mas na União Europeia.

Da humanidade

Cristãos, islâmicos, hindus, budistas, jainistas, confucionistas e mais as outras centenas de fés que eu não conheço, têm uma coisa em comum – são humanos. Pertencemos todos à mesma espécie e, apesar de ser creio que a única a matar-se a ela mesma ao ponto do genocídio, é também a única capaz de coisas extraordinárias como a extrema humanidade onde se alberga o amor infinito e a compaixão.

Do medo

Eis o único mal que pode dar cabo de toda essa humanidade! O Medo! O Medo é, tantas vezes, a nossa desgraça. Aquilo que nos impede de sermos maiores, de irmos mais longe. Pensem em todos aqueles que o conseguiram e vejam o que é que eles deixaram de ter: Medo.

Nós não estamos em guerra. Não sabemos sequer o que é ter a guerra instalada no nosso país, ver as cidades e os campos destruídos, as nossas crianças mortas nas ruas.

Estes refugiados, estes migrantes vêm de uma situação pior do que a nossa. Uma situação que eles próprios não previram como nós não previmos aquela em que estamos agora e não podemos prever aquela em que estaremos amanhã. Sejamos então humanos. Sejamos fiéis à fama que sempre tivemos de povo acolhedor, de bom anfitrião. Afinal de contas não é a primeira vez que nos entra gente pelo país adentro e nós continuamos por cá.

E se, por qualquer estranho acaso, no meio deles entrarem terroristas, nós estamos aqui para lhes fazer frente. Afinal somos ou não somos descendentes de Viriato?



1 comentário:

Majo disse...

~~~
~~~~ Concordo.

~~ Grande abraço.
~~~~~~~~~~~~~~~~~