sexta-feira, 29 de abril de 2016

Não matem os malmequeres


Querida Amália quero dizer-te que, afinal, as flores que andaste a colher para ficarem felizes na jarra - e nos fazerem felizes a nós - não são flores, são ervas! Pelo menos foi o que me disse uma senhora que andou aqui com uma máquina a matá-las a todas.

Durante meses a fio andam os passeios escondidos no meio das ervas que crescem desabridas. De repente, alguém protesta. Vêm os trabalhadores da câmara e arrasam com tudo sem fazerem qualquer distinção entre os espaços de circulação e aqueles que foram concebidos para serem jardins. 

Sim, é certo que estão abandonados. Mas também é certo que a Natureza tem esse extraordinário dom de consertar o que o Homem estraga e, nesta época de abundância que é a Primavera, as flores silvestres invadem esses pequenos espaços dando-lhes cor e vida e fazendo deles o deleite de pessoas que, como eu, gostam de olhar os malmequeres.

Ainda há poucos dias vi a alegria da minha neta a apanhar ramos cheios de cor para colocar numa jarra. Hoje, os trabalhadores da câmara, deixaram um campo devastado. Terra coberta de ervas mortas. Sem cor, sem vida. Quando lhes perguntei porquê, responderam-me que estavam a cumprir ordens. Não cumpram, apeteceu-me dizer-lhes. Mas não disse. Disse apenas que me estavam a partir o coração por estarem a cortar todas aquelas flores.

- Não são flores - disse ela -, são ervas.
- Não minha senhora. São malmequeres. São margaridas. Brancas, roxas e azuis.

1 comentário:

Majo Dutra disse...

~~~
Há, mesmo, pessoas com uma falta imensa de sensibiidade...

Espero que tenha sobrado um cantinho para alegrar a Amália

que deve ser uma menina encantadora e amorosa.

~~~ Dias felizes para ambas e família.

~~~~~ Beijinhos.